Flora

Em termos fitogeográficos, o Parque Estadual do Turvo reveste-se da mais alta importância, por representar o último remanescente de tamanho considerável da mata do alto Uruguai em território gaúcho. A mata do alto Uruguai é composta por espécies florestais advindas do contingente da bacia do Paraná; muitas das quais têm no Rio Grande do Sul o seu limite austral de distribuição. A área do Parque do Turvo insere-se no Distrito das Selvas, que possui matas com árvores de 20 a 30 m de altura, com estrato de árvores menores e sub-bosque denso, onde predominam bambus e samambaias arborescentes.

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Trecho de floresta à beira do Salto do Yucumã, no lado Argentino do rio Uruguai. Foto: D. Meller.

A composição florística varia muito de norte a sul e também em função da altitude. Ocotea spp., Nectandra spp., Holocalyx balansae, Cedrella fissilis, Baulfourodendron riedellianum e Parapiptadenia rigida são espécies notavelmente freqüentes, entre mais de 200 espécies arbóreas encontradas nesse distrito. Entre as palmeiras, o jerivá (Syagrus romanzoffiana) e o palmito (Euterpe edulis) são comuns, mas o último não ocorre no Parque do Turvo. Chama a atenção, nessas matas, a ocorrência expressiva de bambus (gêneros Merostachys e Chusquea) no sub-bosque.

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Jerivá em destaque na Clareira das Antas. Foto: D. Meller.

A grápia (Apuleia leiocarpa) e o angico (Parapitadenia rigida), ocorrentes no estrato emergente, são as principais responsáveis pela fisionomia decidual da floresta. Por serem elementos arbóreos de origem tropical, apresentam caducifolia no período de inverno, devido ao fenômeno de seca fisiológica, em que as baixas temperaturas determinam a perda da folhagem.

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Grápia à beira da Estrada do Salto do Yucumã. Foto: D. Meller.

Hoje, alguns elementos da flora do Parque do Turvo manifestam o reflexo do impacto das barragens que estão em funcionamento. A população da bromélia Dyckia sp. tem apresentado nos últimos anos um acentuado declínio não sendo mais encontrada nos locais onde habitava, suspeitando-se ser conseqüência de possíveis alterações no regime hidrológico do rio Uruguai a partir da construção de usinas hidrelétricas.

Da mesma forma, Lafoensia nummularifolia, um arbusto da família Lythraceae, merece especial atenção devido a sua distribuição no sul do Brasil ser restrita à pequenas áreas nas bacias dos rios citados e também ser seriamente afetada pelas mudanças no regime hídrico dos mesmos.

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Touceira da bromélia Dyckia sp. abaixo do Salto do Yucumã. Foto: Viviane Klein.

Magalhães (1997), em um importante trabalho sobre o uso de plantas medicinais por parte de João Martins Fiúza, popularmente conhecido como Sarampião, que por muitos anos foi funcionário do Parque, relata que, de um total de 74 espécies vegetais empregadas na medicina popular por Sarampião, nada menos do que 61 podem ser encontradas na unidade.

Algumas espécies possuem ampla distribuição, estando presentes até mesmo em áreas de floresta alterada, como suçuaia (Elephantopus mollis), fumo-bravo (Solanum mauritianum), urtigão (Urera baccifera), alfavaca (Ocimum selloi) e pariparobão (Piper gaudichaudianum); outras são habitantes de florestas em melhor estado de conservação, como jaborandi (Pilocarpus pennatifolius), pau-de-canga (Guarea macrophylla), grápia (Apuleia leiocarpa) e cabreúva (Myrocarpus frondosus); além de um contingente de espécies de distribuição restrita aos campestres (afloramentos rochosos no interior da mata), como pêlo-de-porco (Bulbostylis capilaris), ruibarbo (Trimezia sp.) e salsaparrilha (Herreria montevidensis).

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Campestre na estrada do Porto García. Foto: Viviane Klein.

* Fonte das informações: Plano de Manejo do PE do Turvo (Silva et al. 2005).
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